A caminho por entre caminhos

O quotidiano da atividade pastoril de percurso ou o pastoreio extensivo leva-nos a percorrer diariamente vários quilómetros por entre os locais onde o rebanho pasta.

Neste caso, dado o local de pastoreio, as suas condições geográficas e morfológicas, o rebanho atravessa através de construções feitas pelas gerações passadas apenas com o recurso à força humana e animal.

São pedras de granito que de forma desordenada criam um equilíbrio da engenharia do conhecimento vernacular e que perduram, não apenas aqui, mas nas serras e vilas do norte de portugal por dezenas e centenas de anos.

Como consequência da desertificação muitos destes caminhos murados a pedra seca que outrora protegiam campos de cultivo dos que por ali pastavam livremente, hoje apenas conservam a memoria dos nossos avós e ao nosso olhar, deixam centenas de hectares na sua maioria dominados por invasoras. Excepções são os que mureiam os carvalhais, onde a giesta não tem espaço para se afirmar e assim criam uma imagem idílica aos nossos olhos, e nos demonstram como a natureza se auto-regula e regenera sem a acção do homem.

Neste misto entre abandono e nostalgia do passado, existe espaço para contribuir com a actividade de pastoreio extensivo na regeneração rural e com uma acção consertada do homem e da natureza.

Se em cada caminhada dermos um golpe numa invasora, ao fim de varias caminhadas varias invasoras vão deixar de existir. Este é um dos papeis que o pastor, à sua escala, em contexto de montanha pode desempenhar e contribuir para a transformação da paisagem sem o uso intensivo de combustíveis fosseis.

E passo a passo, na lentidão da natureza regenerar o solo com o estrume deixado nos percursos dos seus animais, ir mantendo a area por onde circula constituindo assim um papel fundamental para a manutenção e conservação da biodiversidade.

PASTO NO GIESTAL

Pena é que zonas com árvores não sejam consideradas áreas elegíveis para pastoreio pela União Europeia pelos ilustres tecnocratas de secretaria , e como consequência do fraco desempenho dos sucessivos governos em afirmar as zonas de montanha de Portugal, geridas em parceria com os Baldios e o Estado.
Sendo que qualquer zona florestal, ou mancha arbórea é essencial para serem pastoreadas pelas variadas espécies de raças autóctones em regime de pastoreio extensivo, que pela sua acção prestam um conjunto de serviços de ecossistema dos mais valiosos na sua acção directa e regular contribuindo para o aumento da biodiversidade de cada um dos territórios onde actua, que pela sua acção e presença continua, previne naturalmente a possibilidade de incendio florestal e consequentemente reduz a necessidade de investimento publico no combate desmedido aos fogos florestais, contribuindo assim para uma gestão do território mais sustentável quer no domínio ambiental, quer na fixação de pessoas em territórios de interior e no aumento do sector produtivo agrícola nas suas múltiplas vertentes .

Mas há quem queira teimar que debaixo de arvores não se pasta na Serra e que da pedra nada sai a não ser granito .
Do Garrano à Cachena, da Churra à Bravia, não fossem elas nem a pedra existia, nem a sombra florescia nem a água corria .