Prateleiras de Carbono

As montanhas do norte de Portugal são caracterizadas por paisagens naturais únicas e uma biodiversidade rica, no entanto, enfrentam desafios ambientais significativos, incluindo a degradação dos solos, o abandono agrícola e o aumento do risco de incêndios florestais. Muitas destas montanhas estão incluídas no conjunto de serras quem englobam o único Parque Nacional em Portugal, desde a Serra de Soajo até a Serra do Gerês, e que fazem parte da Reserva da Biosfera Transfronteiriça com a Galiza.

Neste contexto, a pastorícia extensiva e as suas praticas ancestrais têm emergido como uma solução sustentável para restaurar a produtividade dos ecossistemas e aumentar o stock de carbono.

A pastorícia extensiva, caracterizada pelo maneio de rebanhos em vastas áreas naturais, promove a regeneração da vegetação ao controlar o crescimento excessivo de matos e plantas invasoras. Este controle natural reduz o risco de incêndios e permite que espécies nativas se desenvolvam, melhorando a diversidade ecológica. Além disso, o pastoreio de gado em regime livre, transporta as sementes através das suas fezes, favorecendo a regeneração natural e a incorporação de matéria orgânica no solo, aumentando sua fertilidade e capacidade de armazenamento de carbono.

Estudos recentes demonstram que a reintrodução de práticas pastoris em áreas montanhosas , em particular as mais abandonadas contribui significativamente para o aumento do stock de carbono nos solos e na biomassa vegetal. Além disso, essas práticas auxiliam na captura de carbono atmosférico, desempenhando um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas.

Os benefícios da pastorícia extensiva também se refletem na revitalização das economias locais. A criação de gado em sistemas sustentáveis oferece produtos de alta qualidade, como a carne das raças autóctones, a lã, o estrume natural, promovendo o desenvolvimento rural e a fixação de populações em regiões tradicionalmente ameaçadas pelo despovoamento.

A implementação de programas de incentivo e educação para os agricultores e pastores é essencial para maximizar os resultados dessa prática. Políticas públicas alinhadas com a pastoricia extensiva podem transformar as montanhas do norte de Portugal em modelos de resiliência ambiental e socioeconómica, restaurando tanto o património natural quanto a qualidade de vida das comunidades locais, assim como aliar estas praticas a locais de destino turistico cada vez mais sustentável .

Em Portugal, diversos projetos têm explorado o potencial do pastoreio extensivo para o sequestro de carbono e a mitigação das alterações climáticas.
FIca aqui a nota para uma referencia nacional sobre esta temática e pelo seu papel articulador no sector em que actuam e têm vindo a desenvolver um ecossistema e rede de parceiros essencial para a pastoricia extensiva em Portugal.

1. Projeto LIFE Maronesa

” Aborda a problemática do abandono das pastagens de montanha, em particular nas áreas baldias comunitárias, o aumento da intensidade dos fogos rurais de verão, a redução do stock de carbono sequestrado na matéria orgânica dos solos nas áreas de montanha e a redução do efetivo da raça bovina Maronesa. 

Tem como principal objetivo melhorar a resiliência climática das explorações pecuárias e promover o aumento da retenção de carbono na matéria orgânica do solo.

O projeto baseia-se num modelo de demonstração de práticas agrícolas e pecuárias sustentáveis, que tem vindo a ser implementadas por um produtor de vanguarda, e que serão implementadas em quatro áreas de replicação, através de produtores seguidores desse modelo de exploração. “

Mais informações em : Life Maronesa

Ficam no entanto as restantes montanhas e as suas serras com carência de financiamento publico e capacitação da iniciativa privada directa naqueles que dia após dia constroem ( mesmo sem recursos , mesmo sem conhecimento cientifico ) um futuro promissor para as novas gerações.
Ficam a faltar lobbys nas políticas europeias, para integrar os territorios de montanha, que pelas suas especificidades, não se enquadram nos modelos de financiamento existentes, e a criação de modelos simplificados para conquistar a fixação de mais jovens, que lhes permitam arriscar e aprender, para que a agricultura familiar tenha espaço no mercado economico dadas as suas particularidades de diferenciação das materias primas que produz, e para que projectos de demonstrem o seu potencial pleno na preservação de ecossistemas biodiversos possam demonstrar que estas dinâmicas têm um impacto essencial na regeneração do tecido socio-ecónomico do chamado interior de Portugal.

Cachenas nas Brandas de Soajo @ Fotografia de Carla Moreira